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  • Jacir J. Venturi

É professor? Então, seja ótimo!

Nenhuma missão é mais grandiosa do que a de um educador, que não tem o direito de ser mediano. A sala de aula representa os metros quadrados mais nobres de qualquer organização educacional, e prover o estudante de conteúdo, bons valores e autonomia é o maior legado do professor. O papel de um mestre pode até gradativamente se tornar dispensável com o inexorável passar dos anos, mas os seus ensinamentos reverberarão por várias gerações.


Aula que tem de ser dada merece ser bem dada e, para tanto, bem-preparada. E dar uma boa aula não é difícil. O desafio é fazê-lo e manter a motivação e a disciplina, sem as quais não há aprendizagem na escola, tampouco para a vida. O docente sempre deve conter a indisciplina no seu nascedouro, antes que a marola vire um tsunami. Impor limites é uma das suas tarefas precípuas e das mais árduas.


No convívio com os educandos, é imprescindível o equilíbrio entre afeto e disciplina, como pratos distintos de uma balança: de um lado, ternura, tolerância, diálogo. Do outro, limites, respeito às normas e à hierarquia. Uma relação que deve ser intensa e proativa, jamais morna ou tíbia. Para tanto, deve haver um grande esforço em buscar uma unidade de ação e verbalização entre professor e equipe pedagógica diante dos alunos e famílias. Afinal, posturas antagonistas de alguns pais sempre existirão – como se família e escola em trincheiras opostas estivessem. A escola erra, sim, e a família também. A tolerância ao erro, dentro de certos limites, é uma virtude. Sigmund Freud bem assevera: “educar é uma daquelas atividades em que errar é inevitável”. A escola é o espaço da diversidade e, por consequência, um excelente laboratório para a vida adulta do nosso educando.


A didática é também primordial, com a premissa de que no ambiente da sala de aula são intensas e constantes as mudanças, o que requer do professor uma reciclagem continuada. A paixão pelo ensino e a vontade de investir na própria formação demonstram quem realmente quer ser um bom didata. O bom educador é um eterno aprendiz, mantendo-se atualizado nos avanços da sua especialidade e das novas práticas e tecnologias educacionais.


E há sim, ainda que lenta, uma mudança no perfil deste profissional. Infelizmente, muitos bons didatas do passado, com suas aulas expositivas bem-preparadas e bem dadas, estão perdendo espaço por não conseguirem o mesmo êxito em plataformas digitais. Nesse aspecto, valho-me de uma metáfora: os professores estão sendo convidados a embarcar em ônibus de ida, sem retorno. A maioria embarca e no caminho se capacita, se adapta, é darwinista e segue em frente, mas alguns desembarcam ou são desembarcados.


No século 21, o professor tende a ser mais do que nunca exaltado, porém não mais como um expositor de conteúdos, mas sim transfigurado em mediador, mentor, motivador. Afinal, com os avanços das tecnologias educacionais e a informação ao alcance das mãos, a escola deve melhor equilibrar as competências e habilidades cognitivas com as socioemocionais. Neste cenário desafiador, a maioria dos docentes se sente despreparada para uma boa mediação tecnológica, porém muito apreciaria receber capacitação na instituição de ensino, indica pesquisa.


Mestre: entre na sala de aula sempre com disposição alegre, com saudação vigorosa e motivadora, tendo em mente que o aluno não está interessado nos seus problemas particulares ou nos desgastes da aula anterior. Quase todo dia o professor tem o seu calvário. Conflitos com os educandos são inevitáveis. Mas pare e pense: quem é o adulto na relação? O magistério é uma árdua fadiga, conquanto sublime tarefa de legar ao mundo uma geração melhor que a anterior.


 

Jacir J. Venturi, autor de quatro livros e vice-presidente do Conselho Estadual de Educação do Paraná, foi professor da UFPR, PUCPR e Coordenador na Universidade Positivo. Escreve mensalmente para o Estado de São Paulo (Estadão), Gazeta do Povo (do Paraná) e mais 12 periódicos.

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